26.11.06

ArtWork

Trabalho agora ajudando os novos seres humanos a se adaptarem a esse mundo globalizado e inforamatizado em que vivemos atualmente.
Geralmente é um trabalho simples: eles nascem, apesar dos 3.414 médicos e assistentes, choram, mamam, fazem suas necessidades e, tão tápido quanto chegaram, vão embora da minha vida pra enfrentar as agruras da realidade brasileira em que estão inseridos.
Grandes, médios ou pequenos; ricos ou pobres; brancos, amarelos ou negros. Não importa. Todos chegam do mesmo jeito (por baixo ou por cima) e todos recebem o mesmo tratamento até sairem.

Claro que não é assim tããããão sossegado. As crianças costumam nascer, principalmente, fora do horário comercial. Nem sempre as coisas dão certo no nascimento, e aí tem todo um circo armado pra quando a brincadeira sai de controle. Mas, em geral, dá tudo certo e sai todo mundo satisfeito.
Principalmente as mães. Fico impressionado pela felicidade das mulheres tão logo ouvem o choro dos moleques nascendo. Esquecem os 9 meses de desconforto, as horas anteriores de dor e angústia, esquecem os problemas de fora e se concentram em manter a continuidade da espécie e se aliviam pelo trabalho bem feito.

Na maioria das vezes, isso paga as noites mal-dormidas e os sapos engolidos no dia-a-dia.

15.11.06

Da decepção

Quando você faz algo inusitado, mas justo, espera que pessoas que parecem pensar como você, que já fizeram algo parecido em suas vidas e que sempre se mostraram do seu lado te apóiem; certo?
Espero que não seja eu o louco em achar que o que escrevi acima seja mais uma das minhas divagações ideológicas (que tem tomado tombo atrás de tombo) sem nexo nenhum e que meus valores não sejam tão fora da realidade quanto tem parecido.
Porque quando cê toma um chute na cabeça de quem tá perto de você, dói muito mais do que de um desconhecido que tá só defendendo o seu lado, por pior que ele seja.
Em que parte da vida a gente perde os ideais e se junta ao inimigo?
Pelo que tenho visto, é mais cedo do que se imagina.

12.11.06

Dos Riscos da Democracia

É impressionante como as pessoas se transformam quando você tenta mudar um pouco (mas bem pouco mesmo) as coisas nesse mundo.
Pra conseguir entrar em greve foi uma luta, mas não em convencer os residentes lá do hospital, e sim pros chefes entenderem que, quando tem uma greve, você NÃO TRABALHA como antes!
Além das ameaças de não mais conseguir fazer certos procedimentos ou da chacota diária que a gente vem sofrendo, eu e meus coelgas da Pediatria fomos ameaçados de expulsão da Residência e disseram que nossos nomes iriam pro Comitê de Ética do CRM, com possibilidade de cassarem nossos diplomas, se não fizessemos o que o Departamento queria.
Acontece que greve é DEVER do médico, e é violação do Código de Ética qualquer coação ou manifestação contrária a ela.
Bando de escrotos! Foi só aparecer a possibilidade deles terem que por a mão na massa (por exemplo, atender pacientes, fazer prescrição de internados) que os caras ficaram indignados, achando um absurdo isso tudo!
Parece que a democracia só funciona na época da eleição (quer dizer, num País onde votar é obrigatório...). De resto, é cada um por si, Deus contra todos e meu umbigo na frente de todo mundo.

8.11.06

Da Arte de Ser Adulto

Hoje começou a greve dos médicos Residentes no estado de São Paulo; sendo que a Unicamp foi um dos "puxadores" da mesma. Lá se encontram pessoas engajadas no movimento de melhora das condições de trabalho e de assistência à população na área da saúde.

Se você não sabe o que é um médico residente, entre aqui e descubra
.

Sendo eu parte do Comando de Greve, me senti, hoje, melhor do que aqueles jovens que querem mudar o mundo e não sabem como: briguei com professores (sem apelações, claro), organizei passeatas, convenci incrédulos; enfim, defendi com unhas e dentes o que acredito ser necessário por um mundo melhor.
E por muitos instantes deixei de me sentir mais um coadjuvante nesse País, nesse Mundo. Fui parte integrante (e pensante) de um movimento que tenta mudar uma pequena parcela deste universo vil e desprezível em que vivemos atualmente.

Tauqeopariu! Me senti pleno, A NÍVEL DE ser humano! Estou fazendo a diferença e as pessoas concordam com o que eu penso...
Difícil ter sensação melhor que essa.

4.11.06

A Long Way Home

Fidel deixou-nos nesta madrugada.
Deixou também um enorme vazio nos jardins e corações da Chacransky...
Minha homenagem a meu primeiro e querido filho.

Tempo, tempo, tempo, mano velho

Passei 2 meses sem falar com meu pai.
Três semanas sem brincar decentemente com meu cachorro.
Cinco dias sem ligar pra casa de minha mãe.
Dois dias sem falar com quem amo.
E tudo bem...
Tudo bem o cacete! Que mundo é esse em que meu trabalho é mais importante do que as pessoas com quem me importo, e que se importam comigo?
Pra onde estamos indo? Pra que? E agora, quem virá nos defender?
O Chapolim Colorado tá velho. O Super-Homem morreu e renasceu politicamente correto. A polícia é inapta a cuidar dos PCC's da vida.
Não temos "tempo" de responder emails simples; gastamos mais deletando spams do que conversando com quem interessa...
Acho que nem resetando esse mundo as coisas melhorarão...
"O quanto eu te falei
que isso vai mudar.
Motivo eu nunca dei.
Você me avisar, me ensinar.
Falar do que foi, pra você
não vai me livrar, de viver"
Quem é mais Sentimental que eu?

3.11.06

Do Individualismo Humano

Não consigo entender como uma classe tão culta e tão importante não consegue enxergar que a união faz a força.
Fico abismado de ver como essa geração '90-'00
olha tanto o próprio umbigo, sem se importar com os demais.
Acho que o problema maior é que ainda acredito demais nas pessoas...
Ingênuo!
Esse mundo globalizado em que vivemos atualmente poderia ir à puta que o pariu.

E se Deus mandasse seus Anjos

A sensação de impotência reina nesse corpo neste momento.
Falam muito que Pediatria é como Veterinária: quem leva pro médico é o dono, o bicho não fala e não tem como saber como ele tá se sentindo.
A grande diferença é que eu sei (bom, saber, saber também não é assim, mas faço uma boa idéia) o que fazer e o que olhar numa criança; e isso inclui dos 0 aos 15 anos. Agora, quando um bicho de 4 meses fica doente, me sinto como os pacientes, ou seus acompanhantes, que só podem torcer pela recuperação e pra que os cuidadores estejam fazendo a coisa certa. E sem saber questionar...
Talve essa experiência me faça ver meu trabalho com outros olhos. Olhos de quem não gostou do que viu.

2.11.06

O Velho MacDonald Tinha uma Fazenda

Eu adquiri um filho, com meus companheiros de República, a cerca de 3 meses atrás; e agora esse filho está sofrendo de um mal viral muito comum para sua raça. E devido a isso, tivemos que interná-lo numa clínica.
E o bichão emagreceu muito, tá amuado, não come...
Eu, que cuido das mazelas da saúde pública dos pequenos seres humanos menores de 30kg, me pego com lagriminhas marotas no canto dos olhos quando visito o bichão.
E porque não tenho isso quando vejo os moleques passando mal na Enfermaria, ou ensanguentados e entubados no Pronto-Socorro?
Bad, bad server. No donut for me.

Ground control to Major Tom

"Atenção, senhoras e senhores:
Iniciaremos as transmissões tão logo quanto possível.
Como nossa aparelhagem não é das mais modernas, podem exisitir problemas na captação do sinal,
Mas não se desesperem: temos botes salva-vidas para todas as crianças.
Os homens e mulheres que se fodam!"