6.5.07

Perdendo ou Ganhando

Fui indagado dia desses, por um dos leitores (do total de 3) deste blog: como você se sente quando uma criança morre?

Lido com dor, sofrimento e dificuldades no mundo infantil diariamente: fome, pobreza, negligência, violência, doenças agudas, crônicas e não-doenças.
No meio médico, a morte de alguém é caracterizada como "perder um paciente". Nessa expressão está imbutida, além da dor, a sensação de incapacidade em fazer algo melhor do responsável pela criatura em questão; ou seja, você, que estava cuidando dessa pessoa, falhou, foi omisso, teve pouco conhecimento para lidar com a enfermidade, estava aquém das expectativas...

Dia desses morreu uma criança que acompanhei desde o ano passado. Era um problema grave, crônico, com baixas taxas de resolução e de sobrevida comprometida; mesmo assim, fizemos todo o possível. Ainda assim, o paciente sucumbiu à Derradeira.
Fica um vazio, um amargo na boca e, imediatamente, começa uma auto-cobrança: será que fiz o que devia ser feito? Será que me empenhei em descobrir e tratar o que lhe afligia? Será que fui competente? Será que fiz TUDO que estava a meu alcance? Me dediquei? Fui honesto com ele e com a família?

Tais perguntas dificilmente tem respostas; e quando existem, nunca são imediatas. Dependem da aceitação (e aprovação) de familiares, superiores e equipe técnica.

Enxergo alguns meios de lidar com a morte, nessa profissão:

a) você se desapega, se afasta, e trata tudo como consequência natural dos fatos;
b) você se apega à família, ao paciente, aos que estão à sua volta, e sofre com a perda e com sua incapacidade em fazer alguma coisa;
c) você aceita ser um ser limitado, com fraquezas e pontos fortes, e acredita em seu conhecimento técnico para fazer o possível;
d) você é pego de surpresa e não tem tempo de elaborar sentimento algum, apenas se empenha em cumprir sua função.

Não existe maneira mais certa ou mais errada em resolver essa pendência; tudo depende de "n" circunstâncias que, na maioria das vezes, estão aquém de nossa capacidade. Mas sempre fica a sensação de perda, o vazio.

A cabeça não tem o mesmo peso sobre o travesseiro... e não existe livro, artigo, apostila ou aula que te ensine a lidar com isso.

Loser-a-ma

De perder ou ganhar:

Ser vencedor, nesse mundo judaico-cristão-ocidental-capitalista-globalizado em que vivemos, atualmente, ou seja, nos dias atuais, é fácil.
Não me refiro a dificuldade em montar (ou manter) um esquema vencedor; não me refiro à luta árdua diária, ou seja, do dia-a-dia, de galgar cada degrau e fazer-se reconhecido pelo seu valor e sua dedicação. Me refiro ao sentimento que se tem quando se vence, o final, o fim para o qual os meios foram justificados.
Nesse momento nos sentimos plenos, repletos de auto-estima e auto-confiança; ego nas nuvens, dividindo os louros da vitória com quem merece, e mostrando a amigos (e, principalmente, inimigos) o tamanho da conquista alcançada.

Mas, e quando perdemos? O gosto amargo da derrota, a chacota, as críticas acopladas, a queda de auto-estima, a dificuldade em aceitar as críticas e os erros...

Tudo isso pra entrar num assunto delicado, a ser abordado num post próximo...